segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Verdades que não mudam

Café com bolo fresco
As receitas para o amor, o sucesso, a felicidade, a saúde plena, a confiança, a riqueza podem variar, podem não dar certo. De verdade, só confio de olhos fechados, na receita de bolo que aprendi com a minha mãe. Três colheres (bem cheias, colheres de mãe e não de sogra) de margarina ou manteiga, mas tem que ter sal. Uma xícara e meia de açúcar. A xícara antiga, os 250 ml, ou o velho copo de requeijão, quando os safados tinham um padrão só e a gente sabia que independentemente da marca, a quantidade de produto era a mesma. Bater o açúcar com a margarina, numa tigela bem grande, com a colher de pau, é uma ginástica pro braço e pra cabeça. Você ali coloca a intenção daquela mistura ficar homogênea, você imagina qual será o contraste da margarina salgada com o ardor exuberante, extremo do açúcar. Cada batida pode ser uma reflexão, uma lembrança, uma idéia, vale bater forte com a colher para exorcizar aquela vontade de aplicar um corretivo em alguém. A violência não leva a nada, por isso jogar toda força no braço que bate a massa pode ser uma boa opção. Aí entram os ovos. Inteiros, porque o bolo precisa ficar pronto pro lanche, e não vai dar tempo de bater clara em neve e lavar a batedeira depois... Coloca um e bate, coloca dois e bate, coloca três e bate mais. O creme não vai ficar igual ao da receita que você viu na televisão, batido na batedeira elétrica, porque você não é uma máquina. Vai ficar amarelo claro, pode ter uns gruminhos. Se estiverem muito grandes, troca de braço e recomeça o exercício localizado... Fortalecer o músculo do tchau é uma promessa que muitos aparelhos caros fazem, mas a velha colher de pau na tigela da massa de bolo, que não promete nada, pode cumprir. Esperança é tudo nesta vida. O creme ficou misturado, agora entram as três xícaras de trigo. Se você não fez meleca na hora de medir o açúcar, pode usar a mesma xícara em que mediu o açúcar. Uma. Bata bem. Tem que ter convicção. Coloque a segunda, bata mais. A massa vai ficando pesada, mas você dá conta. Como dá conta de tudo na vida. E se lembra do fermento em pó. Tem um pote novo no armário, dentro da validade, e você enche bem a colher de sopa e joga como se fosse algum ingrediente mágico sobre a mistura que está batendo. Misture um pouco mais devagar. E coloque a ultima xícara de farinha de trigo. A massa fica dura. E então vem a xícara de leite. Mexa aos poucos pra não cair sujeira no chão. Afinal você está sozinha e vai ter que limpar toda a sujeira que fizer. Quando a massa absorver o líquido você bate mais um pouquinho. Até ficar tudo lisinho. Os braços já estão aquecidos nessa hora, você não vai achar difícil. Unte a forma com margarina e polvilhe com a farinha de trigo. Coloque metade da massa na forma. Corte as bananas nanicas bem maduras, que já estão começando a ficar passadas, no sentido do comprimento e coloque sobre a massa. Coloque a outra parte da massa, mais uma camada de fatias de banana. O truque seguinte é misturar açúcar com canela e cobrir a banana antes de assar. Aquele cheiro de bolo de banana assando, é a aromaterapia mais eficiente do mundo. Pra menina, pro menino, pra você, pra vizinhança... Coloque para assar no forno médio. Limpe a bagunça enquanto o bolo assa. Avise a criançada. Ou as amigas. Coloque água para fazer um chazinho. Ou um suco, dependendo da temperatura... O bolo pode ser comido quentinho no verão ou no inverno, mas a bebida tem que acompanhar o termômetro lá de fora. Gelada no calor, quente no inverno... Bancada, pia e fogão limpos, estenda a toalha. O tempo médio é meia hora de forno, o teste do palito funciona. Espete o palito. Se sair limpo, o bolo tá pronto. Desligue o forno, espere uns minutinhos pra tirar de lá, e colocar a assadeira sobre o pano. Admire sua obra de arte, o resultado da sua malhação vespertina. Deixe as crianças ou os convidados comerem o primeiro pedaço. Com o cheiro que vai se espalhar, com certeza, terá gente para provar seu bolo. A receita confiável  da massa também aceita outros recheios e coberturas, como a maçã, misturada com uva-passa e açúcar e canela. E a goiabada em pedacinhos, que precisa ser passada na farinha de trigo, pra não ir parar no fundo da forma. Essa sem especiaria nenhuma fica mais gostosa. As pequenas satisfações, as pequenas alegrias, os sinais de cuidado com as pessoas que a gente gosta, o sucesso, a celebração do resultado de um trabalho árduo. Amor, sucesso. Saúde, riqueza, aceitação. O mundo está cheio de receitas. A do bolo da tarde também varia, mas continua sendo uma das mais confiáveis que eu conheço. Um último  conselho: antes de começar o ritual, confira se tem todos os ingredientes em casa e se o gás não vai acabar no meio do processo. A irritação acaba com a mágica!