sábado, 21 de janeiro de 2012

Crônica do fim


Juntar as coisas. Cada livro, cada CD, cada DVD. As camisas, calças, as roupas do momento de lazer. As coisas que precisavam de conserto e nunca foram consertadas. As pastas com poeira. Que segredos elas guardaram durante o tempo de convivencia, em que nunca as toquei por respeito? Uma ultima checagem na casa. Caixas que vieram com a mudança e ainda não arrumadas.  Ter certeza de  que tudo foi devidamente empacotado para que nada ficasse para trás e motivasse uma nova visita. Tudo para não ter que tratar alguém que foi tão intimo como um estranho. O tratamento cordial. A vontade de dizer coisas que machucassem. Ao mesmo tempo, a vontade de pedir que ficasse. O esforço  para manter o tom de voz amigável. O rosto sem emoções aparentes. A promessa de um contato futuro. Sempre fica algo para trás. Há sempre coisas que precisam ser devolvidas. Há sempre coisas que ficam sem ser ditas. Mas também há o cansaço do esforço de buscar formas de fazer as coisas acontecerem. De manter o viço do sonho, de manter o calor das promessas. O esforço de não se deixar abater com as desilusões seguidas, sequenciais, num crescendo exponencial... O esgotamento. A descoberta de que não existe mais energia para fazer com que as coisas aconteçam como se queria. A ultima gota  de vontade de ficar escorrendo pelo ralo... Indo embora. O espaço vazio. A brisa. O silêncio. É certo que um dia este dia será lembrado, como muitos outros, sem fazer o coração doer.
Brasília, 19-01-2012

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Boas Festas atrasado!

Este ano o natal esta diferente. Eu estou pisando o chão da casa própria. Ainda falta muita coisa pra fazer, mas dá um orgulho enorme saber que cada tijolinho, cada porta e cada janela da casa foi escolhido e pago por mim. Reconheço que   contei com a ajuda de valor incalculável  do namorado, que viveu meu sonho comigo, indicou mão de obra e falava grosso na hora de pedir correções nas obras, pedir desconto nas compras e fazer o dinheiro render.
No dia de arrumar a mudança eu guardei a arvore de Natal em algum lugar e agora não consegui encontra-la. Mas achei os enfeites e os dois mini presépios. Não enfeitei a casa em obras, do jeito que eu queria, mas enfeitei meu coração preparando um programa de rádio sobre uma tradição folclórica e religiosa riquíssima, que é a Folia de Reis. Natal de fé  e riqueza musical e visual conduzida por pessoas que moram ou tem sua origem na roça, que tocam e cantam versos lindíssimos para saudar a chegada de Jesus , visitando presépios Brasil afora. O programa ficou lindo. Foi meu “enfeite” mais bem feito para celebrar o Natal. Deu trabalho e se somou  as outras inquietações que vivi o ano todo.  Foi um ano estressante por conta da obra, porque foi difícil de convencer minha filha adolescente que deixar de morar num endereço badalado de aluguel e ir para um bairro que está no começo e é mais longe vai garantir um futuro mais tranquilo não só para mim, mas também para ela. Ano de aprender a se conformar com gastos mais modestos de baladas, salão de beleza e roupas para poder investir  num teto. Mas foi bom demais.
Bom saber com quem eu posso contar, bom saber que é possível perdoar e relevar as atitudes das pessoas que a gente ama, mas que em algum momento nos decepcionaram. Bom saber que a vida tem lágrimas,  perrengues, momentos tempestuosos e dureza, mas merece ser vivida com sofreguidão, entrega e alegria.
Acho que de viver com sofreguidão, entrega e alegria tem alguns riscos, mas nem por isso é uma escolha desastrada. Quando eu tinha 28 anos e comecei  a pegar estrada com mais frequência, já que arranjei um trabalho a quase 100 km de casa,  uma vez quase provoquei um acidente por não conseguir ultrapassar um caminhão enorme na rodovia Fernão Dias. Um guarda da policia rodoviária me parou e me deu um pito, apesar de ver minha cara assustada. “Moça, para ultrapassar um caminhão na estrada, você tem que acelerar e ter CONVICÇÃO”. Que coisa. Continuei a viagem tremendo, mas nunca mais me esqueci do conselho do guarda. Quando a gente acelera e que ultrapassar os obstáculos precisa acelerar e ter convicção.  Convicção pra mim é ter fé na vida. Tendo fé fica Impossível que as coisas tomem um rumo indesejado, que algo de bom não surja do seu trabalho, do s seus sonhos e da sua vontade de construir. Desejo que 2012 seja pra todo mundo um ano  de viver com fé na vida, com convicção. Com sofreguidão e alegria.